sábado, 18 de outubro de 2008

metade

Que a força do medo que tenho nao me impeca de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito nao me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim e o que eu grito, mas a outra metade e silencio. Que a musica que eu ouco ao longe seja linda, ainda que triste. Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante. Porque metade de mim e partida e a outra metade e saudade. Que as palavras que eu falo nao sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, Apenas respeitadas como a unica coisa que resta a um homem inundado de sentimento. Porque metade de mim e o que eu ouco, mas a outra metade e o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço, Que essa tensao que me corroe por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim e o que eu penso e a outra metade e um vulcao. Que o medo da solidao se afaste, que o convivio comigo mesmo se torne ao menos suportavel Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infancia. Porque metade de mim e a lembrança do que fui, a outra metade eu nao sei... Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espirito. E que o teu silencio me fale cada vez mais. Porque metade de mim e abrigo, mas a outra metade e cansaco. Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela nao saiba, e que ninguem a tente Complicar porque e preciso simplicidade para faze-la florescer. Porque metade de mim e a plateia e a outra metade, a cançao. E que minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim e amor e a outra metade... tambem.

(palavras de Osvaldo Montenegro)

Sem comentários: