sábado, 18 de outubro de 2008

morte lenta

"Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso... evita as próprias contradições. Morre lentamente quem é escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo percurso e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, quem não dá conversa para quem não conhece. Morre lentamente quem faz da TV o seu guru e seu parceiro diário. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhao de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem não viaja, quem nao lê,quem não ouve música, quem não acha graça a si mesmo. Morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Evitemos a morte em suaves prestações... ... lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar."

Pablo Neruda

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